As palavras escritas.
Pois não sabia por que escrevia. Mas iam saindo letras das pontas do dedos. E tudo que apertava, magoava, aborrecia, entristecia, saia por ali. A cada letra, um peso a menos dentro do corpo, um pensamento a menos na cabeça. Tinha medo de falar, mas, quando escrevia, tudo fluía. E todas as dores iam-se amenizando. E não sabia que sensação era aquela que sentia quando batia no meio do dia uma vontade desenfreada de libertar alguma coisa de dentro de si. Corria e pegava o caderno, escrevia uma palavra, ou milhares de palavras. Às vezes saiam feias, outras, bonitas. Raivosas, melodiosas, por outras, nem saiam. E pensava que falavam muito sobre ela, que diziam muitas coisas que ela não queria que fossem ditas. Mas que bom era dizer, que alívio era sentir que conseguia se expressar, que não era de todo fechada, que os inúmeros sentimentos que ali existiam podiam, enfim, ser colocados pra fora. E todo aquele silêncio indigno, impaciente, incômodo, que ficava ali todos os dias atormentando, to