Todos nós queríamos abrir o berreiro, tais como bezerros desmamados, gritando aos berros pelas nossas tetas perdidas. Mas não tínhamos o direito. Se eu chorasse, então você se veria autorizado a chorar, então todos nós passaríamos a viver em prantos, como se não tivéssemos que cuidar de mais nada na vida. Guardávamos, então, nossas lágrimas, que caíam era para dentro de nós, até ficarmos encharcados e não comportamos tanto líquido. Mas, em um momento qualquer, havia alguém que abria as comportas interiores, e a inundação começava. Quando isso acontecia, em nosso meio, todos corríamos para afagar os cabelos e dizer palavras de esperança, as quais sabíamos serem muito falsas. Mas o tipo de falsidade que se permite, porque, sem esse conforto mútuo, talvez seria ainda mais difícil a todos guardar o pranto. Todos se dirigiam aquele que não mais suportou, pois ele era o foco agora, nós, demais, não nos era merecida atenção. Perdoável aquele choro e aquela dor por ele expressa. Todos nós sab
Olhar para você tem se tornado a coisa mais difícil das piores coisas que eu podia imaginar. É cortante, rasgante, gritante. É olhar de cima de um precipício e ver-se caindo, voando buraco abaixo. Se, antes, era ver ondas em correnteza, profundeza bela e provocante, hoje, é ver um mar bravo e perigoso, que só me leva ao afogamento. Se era vontade de me jogar nessa inconstância, nesse jogo assassino de confiança, hoje, é vontade de fugir, correndo, do modo mais rápido que exista, de buscar um abrigo em que eu não olhe, não precise olhar nem por um segundo dentro dos seus olhos. Que seja embaixo da terra, acima do céu, na escuridão da solidão ou no arfar da multidão, mas que seja logo, antes que me carreguem e me joguem nessa armadilha que eu mesma planejei e esqueci de aprender como desfazê-la.
Eu sei, eu deveria estar feliz. Eu me peguei segurando as lágrimas porque não achava justo eu chorar. As lágrimas disseram que, se elas caem, há motivo, e quem sou eu pra impedir? Correram na minha face, e os dedos as seguraram e as secaram, acariciaram meu rosto e ofereceram um colo. Eu deixei passar, cantei um pouco, tomei o suco de uvas alcoólico. Seria o choro um efeito das uvas? Meu eu, porém, dizia que não, era um efeito de minha mesma, de não saber lidar com a alegria, de achar que já vinha a tristeza, de saber que o fardo continua nas minhas costas. Eu escolhi carregar um peso nas costas, desde quando me eximi disso? Sempre soube que não seria leve nem fácil o caminho que eu queria percorrer, mas escolhi cada trecho de modo que me guiasse aonde eu queria chegar. E agora, como voltar atrás? Por que voltar? Meus olhos se encolheram e quiseram sair da realidade, fugir, fechar, apagar as memórias, encharcar de água. Todo o sal que se mistura à água e sai tem um motivo, agora foi e
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