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A flor da pele.

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Queria saber quando deixei de sentir a flor que habita na pele. Quando fiquei dormente aos sentidos cinco que há. Quando parei de pensar pra esquecer mais rápido. Queria saber quando não pude mais amar porque não senti mais meu coração. Quando cansei de chorar porque secaram as lágrimas. Quando finquei estacas em mim porque queria permanecer em pé.

Estranho.

Estranho sentir esse que eu sinto. Palpitando acelerado no peito, revolto e suave, enchendo-me de amor, querendo amar. Estranho amor esse que volta. Fazendo eu me sentir inteira, e o coração bater de novo, ressuscitando o que havia dentro de mim e parecia morto. Estranho coração esse meu. Ama quem quer, quando quer, se quer, não me deixa escolha, só aponta e pula na cavidade, fazendo doer esse estranho sentir.

O amor.

Uma vez eu vi, apesar de já ter lido e visto outrora, mesmo já tendo vivido... E concordei: Que o amor é a melhor coisa do mundo - quando se pode estar com a pessoa amada; do contrário, não há dor que ultrapasse aquela que é sentida pela falta do amor, de amor... Um vazio imenso, profundo, latejante, como se tivesse arrancado seu próprio coração, é assim. E é impossível dizerem, cientificamente, que o coração não tem nada a ver com o amor. Pois ele é o próprio local onde esse sentimento mora, é ali que se sente... a falta, a saudade, a dor da perda. É ele que bate quando vê - ou com outra pessoa -, ou quando não vê. Meu coração me dita palavras, maioria das vezes, tristes palavras, ele sente, mais intensamente, a dor que a alegria de amar. Ele grita o amor para que eu ouça, quase me forçando a escrever a dor dele. Engraçado, foi o que eu pensei, quando ouvi aqueles personagens falando que o amor era o feitiço mais poderoso, embora não vivamos num mundo de mágica, mas eu compreendi que

Construção.

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Toda a argamassa no chão, e os tijolos por ela unidos. Os pedaços de pau que sustentavam as telhas, as quais, por sua vez, eram cobertas pelo gesso, para que tudo fosse mais bonito. Apesar de eu preferir mais feio, porque, assim, consigo sentir as gotas em dias de chuva, também gosto de ouvir o barulho, mesmo quando tem trovões. Pois tudo se foi ao chão, assim como devia ter ido a construção dentro dela. Viu aquela que estava ali fora desmoronada, deitada aos pés do asfalto, servindo de matagal, pois já até cresciam ervas daninhas, embora não houvesse flores, nem mesmo rosas. No interior, muita coisa tinha caído também, podemos dizer que restava quase nada, mas ainda havia algumas que ela regava quando lembrava. E esquecia... mas gostava tanto de flores, de todas as cores, que não queria deixá-las morrer, ou de fome, ou de sede, - que é quase a mesma coisa quando se trata de seres com pétalas -, mas, muito menos, que caíssem por falta de amor. E as amava, em vez de deixar que segu

O Vento levou.

Mas fiquei sem palavras, o Vento levou. Calei-me à beira da estrada, esperando que meus cabelos voassem novamente. Sentei-me no acostamento, sem medo de que não me vissem ali. Passaram jumentos, mas não me olharam, pessoas, mas nem resmungaram. E voltou o ar em movimento, levando-me dali. Permaneci, todavia, com aquela mudez, sustando os pensamentos, toda vez que eles vinham. E forçada. Deveria calar. Aquilo não era, porém, natural. Ficava a barreira, apertando as coisas, não deixando ser livre que nem o vento que as trouxe. E assim era, mas vinha, de quando em quando, aquele anseio de gritar.

O passado.

Às vezes, o passado corrói a ferida já corroída, mas querendo não tê-la causado. Vem de súbito, que é inesperado, alastrando-se aos quatro ventos pelas avenidas da alma. Vai-se querendo ser presente e aproveitando-se daquela nossa mania de gostar do que já passou. Chega querendo-se repetir, embora saiba que nada acontece da mesma forma que antes.  Mas vem imperioso, feito o Rei do destino, tendo ciência de que é ele que constrói a história, mas esquecendo que o presente pode ser escolhido, e é este que dá forma ao futuro. Quer ditar o que vai acontecer por ora, mas não tem mais vida no presente, e ali ele fica, flutuando no ar, sem saber onde se encaixe, porque, afinal, já passou...  

Quanta loucura.

Quanta loucura cabe na cabeça de uma mulher. Ninguém há de imaginar, a não ser a própria, cada pensamento que ali se passa. E devaneios e interrogações - aos montes. Nada de espaços vazios, tudo milimetricamente ocupado por uma ideia. Quantas coisas enchem a cabeça de uma mulher. Da mais boba à mais elaborada. Do mais simples ao mais complexo. E tudo é assim dentro do cérebro feminino : quase sempre complexo. Tentem negar quanto queiram, digam milhares de vezes que não é difícil entender. Mas pobres homens que tentarem! Nem eu mesma entendo minha própria cabeça, Que funciono assim. Quem dirá aqueles que são simples mentes masculinas, incapazes de sequer cogitar, entender, captar tudo que existe aqui dentro.

Jantar.

Ontem eu me lembrei de nós dois. Por um instante, passando na Avenida, no meio dos carros. E lembrei. Vi nosso restaurante, que visitamos certa vez. Destruído, assim como o que havia entre nós. As paredes derrubadas, os portões fechados e enferrujados, as janelas com trancas de madeira formando um ‘’x’’, os escombros, restos do que um dia ele foi. Lembrei-me de você na penumbra, das taças de vinho, das minhas mãos tremendo embaixo das suas... dos seus olhos que pareciam incapazes de dizer mentiras. Lembrei-me do meu amor. Que era bonito como aquele lugar em que jantamos juntos, cheio de corações pintados na parede, e o meu junto com eles, mas numa exposição que era só sua. Lembrei-me do quanto eu ansiava que tudo desse certo, da esperança que eu mantinha guardada no peito, do brilho que eu irradiava, da minha alegria. Ontem, em frente àquele lugar, lembrei-me de como fora perfeito para nós dois, hoje, dele, só ficaram restos, que ocupam um lugar à espera de serem retirados, para que

Chuva.

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Todos fugiam da chuva embaixo de todas as suas capas, mas saiu correndo no meio da rua, pisando nas poças d'água, abrindo os braços para sentir os pingos que caiam do céu. Todos os dias, todos eram presos em suas próprias vidas, mas saiu livre, rodando e cantando.  Todas as horas, todos reclamavam da chuva, que não passava, mas sentou no chão da calçada e ficou contando quantas gotas caiam por minuto, até se perder...  Todo o tempo, todos só queriam continuar a viver, mas sentiu a água molhando o rosto e não quis voltar para a vida, melhor era sentir a chuva.

Ai, coração.

Acho engraçado meu coração batendo assim descompassado e querendo ser contido ao mesmo tempo, coitado nem pode bater direito, porque eu não deixo. Acho bonito quando ele bate assim meio maluco, apertado, batucando alto, querendo sair rasgando a pele, e eu segurando. Ai, ai, coração, tenta ficar quieto por aí mesmo, já é muita dor você batendo aí dentro, se sair, eu não aguento não.

Nada disso vai mudar.

Eu acho que, às vezes, nós escondemos de nós mesmos as verdades que não queremos ver. Enfiamos dentro de nós as mágoas que não queremos sentir, guardamos na alma a tristeza que sabemos que não vamos conseguir suportar. Como se tudo fosse fazer um bem maior ficando dentro. Acumulando, acumulando, os dissabores, as amarguras, deixando intocado o que não queremos ver. Mas está bem na nossa frente. Eu acho que a gente devia conseguir enxergar. E enfrentar. E não ficar choramingando de um lado pro outro, uma lágrima aqui, outra ali. E não ficar remoendo, vendo a vida passar e querendo mudar o que sempre, comprovadamente, vai ser a mesma coisa. Mas por que só olhamos para os lados esperando uma resposta que nós já sabemos, só não conseguimos aceitar? E deixamos passar diversas outras perguntas, porque achamos que, pela eternidade, só queremos aquela resposta.  Mesmo que estejamos mentindo para nós mesmos. Só por medo de encarar a verdade.  Eu acho que a gente devia mesmo era olhar para dentr

Tantas palavras.

Às vezes, o silêncio se torna um vazio insuportável. Nenhuma razão para que os dias terminem ou comecem aparece. Nenhum sopro de completude. Uma palavra indefinida bastaria, mas as horas passam... Nem o pôr do sol faz diferença Ou o nascer da lua. Os pássaros não cantam. A mente não se permite pensar Bloqueando a passagem Querendo que outras coisas venham. Tudo estanque Num palco mudo. Preto e branco. Nem um tom sépia pra misturar. Cada segundo vai-se tornando minuto sem que ninguém compreenda O motivo de se aglutinarem Um a um Até serem sessenta. Menos as palavras. Ficam contidas. Esparramadas no peito. Tantas palavras. Mas é inexplicável o porquê De só formarem silêncio.

Você de novo.

Não tinha rima mais nenhuma, até que me apareceu você, mais uma vez, pra eu saber o que rimar. Mas acabou num instante, todos os versos bem distantes silentes, pedantes, destonantes. Teria para a vida inteira, talvez, mas que seriam essas estrofes, o que falariam mais, além de você? Cansaria, cansarias, cansariam, então tudo foi embora, e só ficaram palavras pobres, tristes, repetidas, assim como esses dias, que assim serão. Até que venha outro tema, não tão forte, talvez você de novo, ou a saudade de você, ou a vontade de não te querer... e o que é isso tudo, senão você?

Mesmo caminho.

Segui esse caminho de novo. Sem olhar para trás, porque já sei de cor o que tem nele, em cada pedacinho dessa estrada. No final, virei a cabeça e vi o tanto que tinha andado, tanto que não dava mais para voltar. E fui para o mesmo lugar aonde prometi não estar mais. Estive e soube que não devia mesmo ter ido. Se eu já sabia que o caminho era torto, por que é que eu queria ficar surpresa quando a linha deixou de ser reta? Ia acompanhada durante esse trajeto, suas mãos nas minhas, seus olhos meus, até que eu esqueci de cuidar para não ir por ali, descumpri minha promessa e fui mais uma vez por aquele caminho sem volta. Com você, porque meus olhos fecham. Depois que você me deixou sozinha no fim da estrada,  eu quis chorar e me odiar, aliás, eu chorei e me odiei. Porque eu nunca sei, nunca consigo aceitar o fato de, depois de tantos passos dados, lado a lado, você querer ir sozinho e de eu querer morrer por estar, de novo, só, mesmo que eu saiba que, passado um pedaço, quando a trilha foi