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Eu também, vó.

Eu também, vó, tenho vontade de chorar. Quando eu vejo a cadeira sem balanço, o armário sem contas a pagar. A ausência é a maior dor que há. Eu também, vó, queria voltar no tempo. A um domingo em que fomos almoçar juntos, Todos nós sentados na mesa a esperar. Era o melhor programa que ainda há. Eu também, vó, queria não lembrar. Mas até a lembrança do vô é boa, da voz dele, do cheiro, do caminhar. Somos felizes por lembrar. Eu também, vó, queria que ele estivesse aqui. Não só hoje que meus olhos marejam, mas por todos os dias vão passar. Só eu sei a falta que dá. Eu também, vó, queria não pensar. Mas a cabeça, de súbito, traz o olhar, e então chega a nossa vontade de chorar. E o melhor que a gente faz, eu também sei, é deixar esvaziar.

Game of Thrones.

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- Me indica uma série... - ... E tem Game of Thrones, que eu nunca vi, mas é de época e tem muita nudez. Quando eu li, fiquei meio perplexa. Há sete meses eu conheci alguém. Era em abril , quando passa Game of Thrones. Minha série preferida. Eu disse várias vezes, certamente . Indiquei, mandei baixar, sugeri maratona quando ele estava com o pé doente. Pedi até mesmo, em um ato de desespero, pra ele baixar pra mim. Mas ele me indicou ver Game of Thrones, como se nada disso tivesse acontecido. Ah, também falou de House of Cards. Sendo que qualquer pessoa que minimamente me conhecesse saberia que meu raciocínio não capta essa série. Eu já tinha dito isso, inclusive. Lembro bem.  E a nossa última conversa havia sido sobre não sermos vazios e não nos conhecermos bem. Eu fiquei pensando que era uma bobagem ele não saber sobre isso - que eu adorava Game of Thrones. Ninguém é obrigado a se lembrar de toda conversa que já existiu. Mas isso era significativo - pra mim. Fiquei pensando

Light.

Eu quis dizer: - Tia, chega de a vida ser light! Chega de um amor light, uns beijinhos lights, uns agarrados lights! Light é algo que não é intenso. Por que querer que a vida não seja intensa, ainda mais quando já se viveu o bastante para saber que as coisas não voltam? Quer dizer, o tempo não volta. Ele só vai para a frente. Um relacionamento light, com um ex-namorado. Por que, então? Se não é para ser, que não seja. Mas não que seja pela metade. Light. Se a gente se encontra e gosta, que seja verdadeiro, real, algo que possa mudar alguma coisa. Se for para ser a mesma pessoa, que nem seja. Que seja forte, que o coração bata forte, que exista vontade de amar. Ninguém se força, claro. Mas que seja viver. Que a gente se doe com coragem, que a gente não fique pensando em como pode fracassar. Que a gente queira aproveitar nem que seja um dia, uma noite, uma semana, um mês. Mas por inteiro, não só um pedaço ou uma metade. Completamente.

Sala de espera.

Todos nós queríamos abrir o berreiro, tais como bezerros desmamados, gritando aos berros pelas nossas tetas perdidas. Mas não tínhamos o direito. Se eu chorasse, então você se veria autorizado a chorar, então todos nós passaríamos a viver em prantos, como se não tivéssemos que cuidar de mais nada na vida. Guardávamos, então, nossas lágrimas, que caíam era para dentro de nós, até ficarmos encharcados e não comportamos tanto líquido. Mas, em um momento qualquer, havia alguém que abria as comportas interiores, e a inundação começava. Quando isso acontecia, em nosso meio, todos corríamos para afagar os cabelos e dizer palavras de esperança, as quais sabíamos serem muito falsas. Mas o tipo de falsidade que se permite, porque, sem esse conforto mútuo, talvez seria ainda mais difícil a todos guardar o pranto. Todos se dirigiam aquele que não mais suportou, pois ele era o foco agora, nós, demais, não nos era merecida atenção. Perdoável aquele choro e aquela dor por ele expressa. Todos nós sab

Eu nem te conhecia.

Eu gostava do cheiro do teu pescoço, do teu beijo vagaroso, do teu corte de cabelo, do teu calção frouxo, da tua insônia, mas eu nem te conhecia. Eu gostava das tuas poucas palavras, da tua falta de vontade de me dar satisfação ou de me explicar o que fazia, do teu olhar que eu não entendia, mas eu nem te conhecia. Eu gostava de te ensinar a virar o shot de fogo, de aprender a jogar sinuca, de cantar umas músicas meio envergonhada, de ver o sol nascer do teu lado, no escuro, mas eu nem te conhecia. Eu gostava da mesma banda que você, de como a gente gostava de qualquer coisa, sem reclamar de falta de atenção, mas expondo, às vezes, uma saudade, mas eu nem te conhecia. Eu gostava de não saber de nada de você, mas eu gostava de contar que meu primeiro porre foi aos quatorze anos, e que eu ainda dormia com minha mãe na mesma cama, e gostava que você, só calado, só me ouvia, mas eu nem te conhecia. Eu gostava que eu pensava em você a todo instante do meu dia, olhava as redes sociais com u

Bola de neve.

Parecia um floco de neve que só crescia. Virando uma bola. Talvez a mais boba das metáforas: uma bola de neve. Mas talvez porque é a que melhor descreve essa sensação. De ir se sentindo angustiada, sem fôlego, querendo gritar. Não sabia se tinha motivos. Ou se era só por ser ela mesma. Que guardava sempre isso ali dentro. Parece que pela vida toda. Quando acabava, começava de novo, como um ciclo: como uma bola de neve. 

"O que será da minha vida?"

"O que será da minha vida?" A sua vida já é Há cerca de oito meses Embora você ache que foi ontem. A pergunta não deveria ser essa "O que será ?" Mas sim "o que é a minha vida?" Porque ela já é agora mesmo. Não se escolhe a vida que se tem Todos dizem que Deus é quem manda Você mesma diz o tempo todo "Ah, meu Deus!" O que será da vida é viver Mais que perguntar "o que será?" Forçar a imagem do que ela já é Sem direito de questionar. É difícil mesmo e lamentável Mas pior é ouvir diariamente A mesma pergunta Sem saber a resposta.

Simples assim.

Oi, linda, mas, a uma altura dessa da vida, você não consegue ainda distinguir atos de palavras? Pensei que sim. Verdade que demoramos um tempo para descobrir. Tempo este que nos traz, além do sofrimento - a pior parte do que aprendemos na vida -, uma boa dose de aprendizado. Todas as palavras ouvidas, durante esse período de ensinamento, que não correspondiam à realidade, foram captadas e guardadas na memória. Isso serve para que, quando as ouçamos novamente, possamos nos recordar de como elas podem, simplesmente, serem apenas frases vazias de sentido. Nós sabemos que saem da boca orações completas que parecem dizer algo, mas será que não aprendeu a identificar a falácia nelas? É difícil mesmo, eu sei. Mas tente fazer uma correspondência maior entre essas palavras e as ações que vêm após serem proferidas. Todos nós, humanos, de fato, temos uma tendência a falarmos mais e a agirmos menos. Eu me incluo, você se inclui. Porém, há aqueles seres - os quais nós devemos saber identificar pa

Um abraço.

Quando eu poderia morrer no meio de um abraço, apertado, cheirando a uma antiga lembrança que a memória ficou a guardar. Quando eu dormiria assim, abraçada, em pé, de olhos fechados. Quando eu ficaria uma eternidade, de manhã até a noite, esperando o fim desse abraço, que nunca iria acabar. Quando eu não queria esse abraço, mas a melhor coisa que eu fiz foi te abraçar.

Pequenas grandes vitórias.

Algumas vitórias não são as mesmas se você não tem um sorrisinho banguela para se abrir quando souber delas. Como não tem o mesmo gosto a comida às duas da tarde. Ou a mesma saciedade a água quente quando você vem do meio do sol. Toda a diferença faz na alegria da alma em não ter uma voz a contar na rua que você teve um pequeno sucesso que parece ser tão grande a ponto de provocar essa falação nos mercados. Tanta falta faz, mesmo com tantos outros sorrisos e parabéns, com tantas outras pessoas dizendo boa sorte, se não tem aquela ligação no dia antes e no dia depois da agonia a perguntar como foi, se deu mesmo dessa vez. Quando a gente perde alguém assim, nossas alegrias nunca voltam a ser as mesmas e, mesmo que pareçam maiores, ficam tão pequenas e chegam a perder um pouco do sentido, porque tudo que se quer é contar para alguém que não está aqui.