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Mostrando postagens de maio, 2011

Qualquer Coisa.

Qualquer coisa me alegra, meu bem. Qualquer pétala de flor,de qualquer cor. Qualquer palavra dita no ouvido, a qualquer minuto do seu dia. Qualquer dia da sua semana, a qualquer tempo. Qualquer encostar de lábios, qualquer alisar de mãos. Qualquer frase me faz feliz, dita de qualquer forma, com qualquer olho no olho. Qualquer sorriso seu, qualquer som de risada, qualquer história da sua vida. Mas, mesmo com esses milhões de quaisquer, com qualquer coisinha me fazendo feliz, você não me dá qualquer.

Carta

Comecei a escrever uma carta: data, vocativo, algumas palavras. Fui beber água e voltei. Olhei para a carta. O vocativo saía do papel, pulando para fora das linhas Então esfreguei os olhos, porque achava que o sono já me fazia delirar, mas não, ele continuou a rasgar o papel e fugiu dali. É que dali ele não pertencia, e as coisas não gostam de ocupar um espaço que não lhes pertence. Tendo ido embora o nome, as palavras começaram a se desmanchar, borrando o papel de caneta. Não consegui mais ler. É que elas não gostaram de perder o sentido, e achavam que o vocativo não tinha direito de sair correndo daquele jeito, sem ouvi-las, sem se despedir. Eu também achava isso, mas não disse a elas, porque se achariam com mais razão ainda. E não é certo dar muita razão às palavras, porque elas persistiriam ainda por mais tempo na cabeça. E encontravam-se raivosas, com ódio do vocativo, disseram que, se era assim, nunca mais ele as ouviria. Fiquei a olhar para o papel, rasgado, aind

questão de sonhos.

Só não sabia dizer o que era. E pensava, pensava... dia após dia, hora após hora. Dormia pensando, acordava pensando.   Se era isso, se era aquilo, se sabia, enfim, o que era. Coisa mais complicada era descrever o que se sente. Pior ainda era ter que descobrir o que tinha dentro de si para poder contar para alguém. Como queria ser entendida, se nem mesmo se entendia? Se pensava uma coisa, depois outra, se queria deixar para lá, mas também queria persistir. Qual era o problema, afinal? O que tinha? Ou era mais questão de o que não tinha? Ou de   o que queria ter? Ou não queria ser? Ou queria ser? O que era aquilo? Uma falta de paz, de descanso, de sossego. Uma agonia, uma vontade de descobrir algo que definisse aquilo. Uma vontade de que, quando chegasse a hora de ter que falar, saber dizer, saber se fazer  compreendida, saber definir exatamente o que queria e o que sentia. Mas nem sabia o que queria nem sabia o que sentia. Muita coisa junta, muito sentimento junto, muito pouco tempo...

Redomas.

Imagem
Foi construindo redomas ao seu redor. Que se quebravam com o toque certo, que iam trincando a cada palavra dita. Os pedacinhos iam caindo no chão, tudo em vão. Construiu tudo de novo, quebrou tudo de novo. Até o dia em que se acostumasse a viver assim encarando esse mundo de frente, sem precisar de falsa proteção, de falho escudo. Até o dia em que tantas redomas foram quebradas, que ela, enfim, achou que de nada adiantavam, eram destruídas sempre. Até que admitiu que aquelas redomas podiam ser sempre diferentes, mas que se trincavam pelo mesmo motivo. E não tinha capacidade de construir motivos, muito menos de modificá-los.

Como se.

Como se a gente pudesse simplesmente pegar as coisas e jogar no lixo : as memórias, o amor, os sorrisos, as palavras, as mágoas, as desculpas, as explicações, as satisfações. Como se fosse possível arremessar tudo pela janela. Assim seria muito fácil. Seria fácil não olhar para trás, não ficar triste, não se arrepender. Seria extremamente fácil se explicar, se desculpar, se livrar das dores, dos remorsos, dos rancores. Se assim fosse, nós só pegaríamos o que não nos convém e trocaríamos pelo que nos satisfaz agora. Sem pensar, sem deliberar, sem saber no que pode acontecer. Se acontecesse, então pronto, segue em frente e deixa isso para trás. Como se o passado não te perseguisse no futuro, como se a sua luta diária e interna para esquecer as coisas fosse em vão e tudo pudesse se apagar num piscar de olhos. Só porque você quer, só porque você precisa. Ah se tudo fosse assim tão simples, como se a vida não fosse te deixando marcas quase eternas, que vão te seguindo de um modo quase insup

velho sonho.

Estava no meio de um sonho. Via um rosto conhecido e uma voz conhecida, via uma ilusão conhecida, uma tentativa de explicação conhecida. Mas vi algo novo : uma vontade de não querer ouvir nem querer ver, coisa nova, muito nova. Aí eu acordei. e, há um tempo,  acordava e tinha raiva de quando esses sonhos conhecidos findavam rapidamente, queria ficar sonhando a mesma coisa a noite toda, passava horas e mais horas tentando reconstruir o sonho, voltar para ele, mas, hoje, fiquei aliviada, abri muito bem os olhos, passei tempo suficiente acordada, até que a lembrança do sonho se apagasse, e minha imaginação não fosse capaz de completá-lo. Até que eu não lembrasse mais do que me fez não querer mais sonhar.