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Hoje faz um ano.

Hoje faz um ano, você lembra? de nós dois? Passei uns dias lembrando, mas hoje esqueci. Preferia ter esquecido, mas veio a lembrança no meio do dia. De nós dois. E veio a tristeza, o olhar sem brilho que me vem quando eu recordo. O bolo no meio da garganta, o nó na alma... Será que você lembra? Mas não, tenho certeza que não.

As palavras escritas.

Pois não sabia por que escrevia. Mas iam saindo letras das pontas do dedos. E tudo que apertava, magoava, aborrecia, entristecia, saia por ali. A cada letra, um peso a menos dentro do corpo, um pensamento a menos na cabeça. Tinha medo de falar, mas, quando escrevia, tudo fluía. E todas as dores iam-se amenizando. E não sabia que sensação era aquela que sentia quando batia no meio do dia uma vontade desenfreada de libertar alguma coisa de dentro de si. Corria e pegava o caderno, escrevia uma palavra, ou milhares de palavras. Às vezes saiam feias, outras, bonitas. Raivosas, melodiosas, por outras, nem saiam. E pensava que falavam muito sobre ela, que diziam muitas coisas que ela não queria que fossem ditas. Mas que bom era dizer, que alívio era sentir que conseguia se expressar, que não era de todo fechada, que os inúmeros sentimentos que ali existiam podiam, enfim, ser colocados pra fora. E todo aquele silêncio indigno, impaciente, incômodo, que ficava ali todos os dias atormentando, to

Noites e dias.

Chegaria essa noite, em que, fora da solidão do dia, eu te encontraria, e todo o meu silêncio não se calaria, porque a ti eu diria as dores e alegrias. Chegaria o dia, em que eu acordaria, e suas mãos teria, seus sonhos juntos aos meus, meus olhos piscariam, porque eu não acreditaria. Chegariam as noite e os dias, e todas essas poesias que eu guardei no papel, eu as leria, teu amor cresceria, e, quem diria, feliz eu seria.

Meu orgulho medroso.

Eu pensei que nós podíamos sentir o mesmo, esconder o mesmo, fingir o mesmo, em reciprocidade. Eu pensei quando te vi sem jeito, meio escorregadio, desviando o olhar, fugindo de mim, porque eu também fujo pra não me mostrar. Que lógica mais louca, pensei eu. Nunca ninguém saberá. Mas foram-se passando dias perdidos, encontros perdidos, palavras perdidas. Cada vez que eu pensava desse jeito, eu tentava fazer diferente, mas tudo que eu sabia era fazer o mesmo, pra que você não soubesse. Como se isso não fosse tudo que eu quisesse. E pensava em coisas que podiam te interessar, mas não as disse. Perdi oportunidades por medo de que tudo não fosse assim, não seja assim. Como eu pensei que fosse. E continuei achando as coisas estranhas, eu arredia e hostil, e como era difícil ser assim gostando tanto de você e sentindo tanta saudade. Mas não via resposta, nem tinha pergunta. Pois foram se estagnando meus sentimentos, e não achei mais que havia esse tal de recíproco entre nós, porque ninguém

Minha flor.

Toda essa dor no meu peito, Incontrolável, de saudade da minha flor. Do meu botão de rosa, que desabrocha, da minha pétala de amor.

A não ser em você.

Na multidão de olhares, procurei o seu. Na imensidão de pessoas, sua luz. No escuro, sua alegria. No barulho, sua voz. Nos encontros, sua pele. Na solidão, sua companhia. Não achei. Em nenhuma outra pessoa.

Furto.

Tirou uma telha, depois outra, pulou de uma vez, sem medo. Cabeça confusa, visão embaralhada. A tevê, o som, velhos, mas dariam uns trocados. Mais dinheiro para trocar por menos realidade. E o bujão de gás. Pesado, mas não sentia. Levou tudo. A mulher chegou em casa, depois de mitigar um pouco a tristeza na casa da irmã. Sozinha, como sempre era. Chorou. Meu som, minha tevê, meu bujão. Levaram tudo. Pouco dinheiro. Ficou mais triste e só do que era de costume. Ele ouviu dizer. Rapaz, ela tem depressão. Meu filho, devolva as coisas da Dona Tetê, a coitada vive só, e, agora, nem televisão tem mais. Pensou. Lembrou da casa, da solidão dos móveis. Da sua própria solidão viciada. Vai lá, menino, pega aqui essa televisão e devolve lá pra Dona. Não diz que fui eu, viu, moleque?  Se tu disser, já sabe, né?! Sei, sei, macho, pode deixar. Tia, tá aí tua televisão. De noite, abraçada com a  solidão, ela tinha, pelo menos, uma televisão. E ele, um pouquinho menos de peso no coração.

Pra ser feliz.

Se o que me fizesse feliz fossem as estrelas, eu as teria, e o que me faria feliz seria o sol. E eu o teria a iluminar todos os meus dias e as minhas noites, mas o que me faria feliz seria a lua. Eu dormiria em suas crateras e tomaria café da manhã com São Jorge, e o que me faria feliz seria o mar. Quando eu o tivesse, seriam as nuvens do céu que me fariam feliz. Voaria de uma em uma e faria chover quando eu quisesse. Mas, então, o que me faria feliz seriam as pessoas, e eu as teria todas para mim, me fazendo o tempo todo feliz.  E eu seria feliz se fosse só. Quando eu fui feliz sozinha, eu não fui feliz, assim como não durou muito a minha felicidade quando eu tive o sol, as estrelas, as nuvens, o mar, a lua... Nada me fazia feliz até eu ser só. Em cada pessoa que eu tive, encontrei um motivo para me deixarem menos felizes, porque as pessoas são assim. E, depois que eu tive as pessoas e tive a mim mesma, eu vi que eu era igual a elas. Na minha solidão, achei um jeito de poder ser fel

Tua voz.

E fui buscar todas as músicas pra ver você cantando uma a uma E pra que a gente pudesse cantar juntos Como naquele dia e naquele outro. E queria que esse dias voltassem, mas parece que eles só ficam mais esquecidos no passado E eu tenho medo de perdê-los pra sempre e nunca mais tê-los de volta. Então eu ouço mais e mais, o dia inteiro E lembro de você e vejo a sua voz e escuto o seu rosto E queria que fossem as nossas vozes, mas isso eu não posso ter, então eu preciso dessas músicas pra nunca esquecer do porquê de eu nunca esquecer da tua voz.

Botão de rosa.

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Se você me acha assim insensível, eu que era sentimentos aflorando a todo instante, digo a você que resolvi me fechar como um botão de rosa por uns instantes, quem sabe mais que uns. Se as perguntas não saem mais da minha boca, eu digo que meus ouvidos não suportam mais ouvir as mesmas respostas. E se as respostas que eram por mim proferidas não são mais dadas a todo instante, é que cansei de saber responder tudo a toda pergunta. Não sei mais. Não quero mais saber. Se eu pareço bem, se pareço não sofrer, é porque resolvi esperar. Sofrimento em vão já tive demais. As lágrimas, elas cansaram de descer e se acumulam dentro do meu corpo, até que precisem sair de verdade. Pois pareço mesmo despreocupada, sem saber o que se passa ou o que poderá se passar. E vou continuar assim, até que vocês me mostrem que levam a sério todos aqueles sentimentos, mas se só não sabem o que fazem com eles, mais uma vez, deixe-os aqui, muito bem guardados.                                              

Um a um.

Os caminhos vão se separando  dia  a dia, mês a mês, ano a ano, vida a vida. E a vida, que era minha e sua, agora é só minha, e a sua, só sua. E eu que sabia tudo sobre você, sei pouco sobre mim, menos sobre você. A você que eu contava meus segredos, agora os escondo no peito, e os seus você desata a quatro ventos, mas eu não os sei mais. Das dores compartilhadas, eu não as sinto mais, mas sofro mais com as minhas, porque agora eu as tenho só pra mim. Os sorrisos que eu te dei, hoje, eu guardo dentro da cara, e a tua boca se abre menos, porque o meu sorriso é que a alargava mais. De tudo que era meu e teu, teu e meu, só restou um a um, e a gente se encontra na rua e não se lembra do dia em que nós dois é que éramos um.

Sonho.

Sonhei um sonho lindo, daqueles que, além da felicidade que aflora na hora do sonho, ainda te deixam felizes o resto do dia inteiro. Sabe? Era tão simples, bobo, que, se eu contasse, diriam :" - mas esse é um dos teus melhores sonhos?" É. Esse é um dos sonhos que eu mais queria transportar pra realidade. Pegar uma agulha, furar a cabeça e deixar que ele saia e se materialize. Em vez de na minha mente, diante dos meus olhos, mas sem que eu pudesse me ver, porque eu o estaria vivendo. Mas eu acordei, e, mesmo tendo me deixado feliz, ele foi-se embora. Era só um sonho...

Por que?

Por que eu esconderia, omitiria, diria não, querendo dizer sim? Por que me faria de desentendida, desconversaria, fugiria? Por que sairia de perto e entraria na porta mais próxima? E por que calaria, falaria menos ou mais do que não me importa? E fingiria ser outra por quê? E por que me enganaria? E por que diria que não queria?

Quisera.

Queria eu saber dos pensamentos que, a ti, te cabem. Quisera tu saber dos que cabem a mim. Seríamos, talvez, os mais felizes do mundo. Ou, quem sabe, não nos olharíamos mais. E eu perderia tudo que fomos um dia, pois, na verdade, não havíamos sido nada. Se, desse modo fosse, triste eu ficaria, preferia não saber do que te passas e que o meu pensar não soubesses. Pelo pouco, ainda olharia para você, quando pudesse.

Luz dos Olhos.

Os olhos fecharam num segundo, lentamente. Nem deu tempo rever a vida, arrepender-se. Não deu para sorrir, lembrar-se. Nem dizer tchau ou adeus, agradecer. Nem ouvir que faria falta, orgulhar-se. A sede de viver matou a própria vida. Numa discrepância tênue e absurda. Um ultraje ao desejo de viver, uma afronta à ânsia dos que vivem. Brincadeira do destino, pegadinha da Senhora Morte, esta que, ávida, deselegante, imperiosa e inescrupulosa, só sabe fazer piada sem graça. As cores foram-se embora, veio o preto mascarando as faces, sombreando a vista, iludindo a Vida. Teimara, tal Senhora, enaltecera seu significado, lutara para se manter. Fora forte, brava, sensata. Sensatez não era a palavra do dia. Ou sentido. Ou razão.  Porque assim quero, ordenou a outra, e arrastou o manto negro, sem dar explicações, por cima da pele já sem cor, dos olhos já sem brilho. Mal sabe ela, entretanto, que, pode ter tirado a cor daquele olhar, mas que nunca vai poder apagá-lo dos olhos que o viram. A me

Cotidiano.

Passei meu melhor perfume, coloquei uma roupa bonita, que não mostrasse minhas intenções, mas que servisse para qualquer uma delas, penteei bem penteado o cabelo, passei rímel, curvei os cílios para melhorar o olhar, hidratei os lábios, levei batom para retocar. Sentei um pouco, esperei um pouco. Desisti mais uma vez, a última talvez. Cheguei em casa, joguei a roupa na cama, comi quase um quilo de chocolate, não precisava mais ser magra por hoje, prendi o cabelo num coque desleixado, escrevi umas palavras inúteis, rezei pedindo que os pedidos mudassem, olhei o celular mais umas cem vezes, umas lágrimas de raiva e desilusão caíram, deixaram o travesseiro um pouco, mas pouco, úmido, dormi feito um anjo. Acordei lembrando. Fui arrumar o que fazer.

A Solidão.

Os dias vão passando, e a certeza de que não vai passar vai continuando a morar aqui, bem pertinho de mim. E o medo vai se alojando, trazendo mais e mais bagagens. A solidão, que o recebeu de braços abertos, já se sente de casa , de tão acostumada com esse lugar. E ela não sabe ser bem-vinda, sabe que a inquilina a detesta, mas é a dona do pedaço, porque sabe que é a única a preencher tal espaço, pois não pode ficar vazio. Sabe ser útil, necessária, sabe que precisam dela na falta de outro ocupante. E que é segunda, terceira ou décima opção, talvez, mas sempre volta um dia e ali recebe abrigo. Pois a solidão habita os corpos, porque os corpos nasceram sós. E é expulsa de vez em quando, arrastam-na pelos cabelos, e ela vai embora esperneando, praguejando, jurando não voltar nunca. Mas volta. Arrependida. Sabe que não é de todo ruim, mas que rouba muitos sentimentos bons das pessoas. Não deveria culpá-las por não gostarem dela, devia ser esperta o suficiente para ser compreensiva. Mas,

Pipoca

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Que cabelo de pipoca! Pula tanto que parece que vai fugir da cabeça, sair correndo pelo mundo, pipocando por aí...

Sentir.

Palavras fluindo, dotadas de vontade própria, os milésimos de segundo pairando no ar, inertes, atônitos, inesperados. A necessidade emergente, idosa e idônea, de enxertar todos os sinais para dentro de si. Engolir, inspirar, enfiar. Respirar e fingir, controlar o espírito inquieto e neurótico que ali existia, amarrá-lo em camisa de força, escondê-lo, afastá-lo da vista. Para que tudo pareça normal, como sempre fora. Para que a vida pareça a mesma, apesar da mudança irreversível que sofrera. Não transpareça, não mostre ser o que é, equilibre-se nessa corda bamba do sentir. Não caia.  

Foto sua.

Pois fique bem quietinho aí nesse canto. Quero tirar uma foto sua. Que capture você. Vou guardar dentro da alma, junto com aquela outra nossa. Mas essa é só sua. Seu jeito perdido, zonzo, confuso, esquecido. Seja você e só isso. É só o que eu quero. Por enquanto, só a foto. Quem sabe um dia... Não vou perdê-la nunca nem vou colocá-la no meio daquela bagunça. Vai ficar separada. Não vou esquecê-la. Como talvez você esqueça de que um dia tirei essa foto.

Olhar para você.

Olhar para você tem se tornado a coisa mais difícil das piores coisas que eu podia imaginar. É cortante, rasgante, gritante. É olhar de cima de um precipício e ver-se caindo, voando buraco abaixo. Se, antes, era ver ondas em correnteza, profundeza bela e provocante, hoje, é ver um mar bravo e perigoso, que só me leva ao afogamento. Se era vontade de me jogar nessa inconstância, nesse jogo assassino de confiança, hoje, é vontade de fugir, correndo, do modo mais rápido que exista, de buscar um abrigo em que eu não olhe, não precise olhar nem por um segundo dentro dos seus olhos. Que seja embaixo da terra, acima do céu, na escuridão da solidão ou no arfar da multidão, mas que seja logo, antes que me carreguem e me joguem nessa armadilha que eu mesma planejei e esqueci de aprender como desfazê-la.

Bem, Fulano, do que é mesmo que eu estava falando?

Bem, querido, eu  me imaginei falando. É, vou dizer querido, porque sempre quis falar assim, mas nunca acho oportunidades. Talvez diga só bem, Fulano, mas vai tem que soar como eu quero, bem direto e maduro, tem que ter um tom que mostre que eu sei o que estou falando, apesar de, que, apesar de novo, eu treino tudo aqui na minha cabeça e não sai nem metade desse discurso todo e sai mais da metade de bobagens que vão fluindo feito uma correnteza. Ai, se eu soubesse dizer tudo bem direitinho. Vou treinar. Decorar como um texto, como as respostas de geografia que eu decorava na  6ª série, as fórmulas de física, aquela coisa toda. Vai dar certo, dizem que, se você pedir muito uma coisa, o universo te ajuda. Mas eu não acredito. Porque já pedi muito muitas coisas e nunca fui atendida. Quem sabe um dia. Tomara que seja nesse dia. Querido Universo, ajude-me neste dia. E, vou parar de chamar todo mundo de querido, porque vai parecer falsidade. Então, vou explicar todas aquelas coisas que não s

Pássaros.

Adoro acordar com o canto dos pássaros. E dormir novamente com a melodia embalando meu sono. Quando eu tiver minha casa, vou ter um jardim cheio de flores, de todas as cores, cheio de coisas que os pássaros gostam, coisas que eu não sei dizer o que são, mas que descobrirei. E as colocarei nesse belo jardim que terei, que ficará ao lado do meu quarto. Haverá uma janela muito grande e umas cortinas cor de marfim. Então, amanhecerá o dia, os pássaros virão e cantarão na minha janela, que estará sempre aberta para que eles se sintam à vontade. E verão meu sorriso e minha satisfação interna. E cantarão durante todos os dias. E eu serei muito feliz.

Gosto de vida.

- E essas lágrimas tem gosto de que? - Gosto de vida. Sabe? De toda a sua vida, desabando. São pesadas, amargas... Quando vem tudo à tona, quando seu caminho tá tão errado, confuso, que só restam lágrimas no meio dele. - Querida, tudo tem jeito nessa vida. - Eu sei, eu sei, mas parece que não tem, que nada mais vai dar certo, tudo tão irremediavelmente errado. Não achei que elas fossem cair logo assim, achava que aguentava mais, até que isso tudo passaria, e elas continuariam guardadas, dando tudo de si para não caírem, duvidei da minha fragilidade, pensava que tinha me tornado forte, que entendia, que conseguia aceitar certas coisas. Mas não, é como se tudo explodisse agora, de uma hora para outra, como se meu corpo não suportasse guardar mais tudo. Desisti de tentar aceitar, de querer acreditar que as pessoas são assim. Não, não podem ser. São pessoas! - Mas as pessoas são diferentes. Umas pensam mais que outras, sentem mais que outras, importam-se mais que outras. - Isso não é

Ausência

Ausência se sente quando se somem as coisas que a gente não quer que estejam ausentes Saudade se sente. Quando assim, de um dia pro outro, deixam de ser nossas e passam a ser só do mundo e do nosso pensamento. Sem nem nos dar tempo de dizer tchau ou adeus nem dizer palavras bonitas e o quanto foram boas e especiais para nós. Quando se vão sem olhar para trás e buscamos saber o porquê de todos os dias sentirmos falta de coisas que não souberam nem se despedir nem sentiram saudades de nos sentir. Mas saudade é assim mesmo, não se explica, só se sente, como já se dizia tanto. E a gente não acredita, fica só procurando achar um motivo ou outro para parar de sentir, porque essa ausência, quando é assim, de repente, é coisa ruim danada, é a pior saudade que se sente.

Chuva.

Se existir coisa mais bonita que essa chuva caindo no quintal, molhando cada pétala de flor, cada grão de areia, as gotas escorrendo pelas folhas, inundando os jarros de planta, tingindo o céu de cinza, para, depois, pintá-lo do azul mais bonito que existe na cartela de cores. Se existir, eu ainda não vi. Essas mangueiras cobrindo a cachoeira, esquecidas, subindo pelo céu, quase tocando as nuvens. Detrás delas, o véu vai se encorpando, a água caindo e adicionando camadas e camadas de tule, deixando a serra ainda mais bonita de se ver, o dia ainda mais bonito de se viver. A cada minuto, tocando o mato e transformando o seco em verde, levando embora a feiura e trazendo a beleza mais bela desse mundo. Eu acho que não há coisa melhor de se olhar. Melhor seria se a chuva, assim com ela faz com todas as outras coisas, pudesse molhar dentro de mim, lavar minha alma, até que a sujeira fosse toda embora e, depois que ela passasse, também só sobrassem coisas bonitas para se ver. Mas, só de olhar

Teias de aranha.

Aí eu te dei aquele beijo horroroso no rosto, como se fosse teu rosto que eu quisesse beijar, mas acho que meu corpo disse não pra minha boca, porque ela se recusou a encostar de novo na tua boca. Acho que foi minha cabeça que sussurrou pro meu corpo que ele nem sempre tem que fazer o que tem vontade, que acaba machucando certas outras coisas que vivem dentro dele, que parasse de ser egoísta e pensasse nos outros também, que pensasse em mim mesma, que sou dona dele. E eu, que não precisava de mais provas para contestar a verdade dos fatos, que se achavam incontestáveis no momento, pois, depois de umas três ou quatro coisas que você não fez, essa era só mais uma que entrava no rol. E por que eu precisaria de mais, se essas já bastavam tanto? Mas sempre queria mais, não é mesmo? Sempre querendo achar que havia um e outro motivo, quando esses motivos não se encaixavam de forma alguma na realidade, tanto que nem eu, a criadora deles, não os aceitava. Pois bem, mesmo que tivesse me dado vár

Desejo.

Eu desejo muito que as pessoas sejam felizes Todos os dias. Que haja alegria. Que aquele homenzinho que vende água corcundo, sofrido, sujo... possa chegar em casa e ter uma mulherzinha corcunda, sofrida, suja... Que haja amor. Que os filhos deles, corcundos ou não, sejam felizes Que carreguem livros. Que haja educação. Que aquela mulher de saia curta na esquina chegue em casa e veja seu pequeno anjo sonhando e sonhe também. E tire o dinheiro suado do meio dos seios murchos e cansados. E a criança tenha almoço no outro dia E cresça. E tire a mãe da esquina e bote numa casa com varanda. E que a mãe possa assar bananas e comê-las com canela, sem pensar no amanhã. Que haja sonho. Que a criança de olhinhos tristes, cheios de remela, possa chegar em casa, ouvir perguntas e cantar novas músicas. Possa ser banhada, vestida, enfeitada, amada. Que não tenha o corpo grudado nos ossos, mas a boca cheia de doces. Que haja ingenuidade. Que os olhos brilhem mais que

mais vezes ao dia.

Se eu visse teu sorriso todo dia, eu sorriria mais vezes ao dia. Se eu olhasse para você todo dia, eu viveria mais vezes ao dia. Se você me quisesse todo dia, eu seria sua mais vezes ao dia. Eu ficaria fora do ar mais vezes ao dia, mais feliz mais vezes ao dia,  menos nostálgica mais vezes ao dia, menos impaciente mais vezes ao dia,  mais confiante mais vezes ao dia, mais segura mais vezes ao dia,  mais amorosa mais vezes ao dia. Eu te tenho todo dia, na minha mente, muitas vezes por dia,  mas eu te teria mais vezes na vida, se você aqui estivesse,  mais vezes ao dia. 

Qualquer Coisa.

Qualquer coisa me alegra, meu bem. Qualquer pétala de flor,de qualquer cor. Qualquer palavra dita no ouvido, a qualquer minuto do seu dia. Qualquer dia da sua semana, a qualquer tempo. Qualquer encostar de lábios, qualquer alisar de mãos. Qualquer frase me faz feliz, dita de qualquer forma, com qualquer olho no olho. Qualquer sorriso seu, qualquer som de risada, qualquer história da sua vida. Mas, mesmo com esses milhões de quaisquer, com qualquer coisinha me fazendo feliz, você não me dá qualquer.

Carta

Comecei a escrever uma carta: data, vocativo, algumas palavras. Fui beber água e voltei. Olhei para a carta. O vocativo saía do papel, pulando para fora das linhas Então esfreguei os olhos, porque achava que o sono já me fazia delirar, mas não, ele continuou a rasgar o papel e fugiu dali. É que dali ele não pertencia, e as coisas não gostam de ocupar um espaço que não lhes pertence. Tendo ido embora o nome, as palavras começaram a se desmanchar, borrando o papel de caneta. Não consegui mais ler. É que elas não gostaram de perder o sentido, e achavam que o vocativo não tinha direito de sair correndo daquele jeito, sem ouvi-las, sem se despedir. Eu também achava isso, mas não disse a elas, porque se achariam com mais razão ainda. E não é certo dar muita razão às palavras, porque elas persistiriam ainda por mais tempo na cabeça. E encontravam-se raivosas, com ódio do vocativo, disseram que, se era assim, nunca mais ele as ouviria. Fiquei a olhar para o papel, rasgado, aind

questão de sonhos.

Só não sabia dizer o que era. E pensava, pensava... dia após dia, hora após hora. Dormia pensando, acordava pensando.   Se era isso, se era aquilo, se sabia, enfim, o que era. Coisa mais complicada era descrever o que se sente. Pior ainda era ter que descobrir o que tinha dentro de si para poder contar para alguém. Como queria ser entendida, se nem mesmo se entendia? Se pensava uma coisa, depois outra, se queria deixar para lá, mas também queria persistir. Qual era o problema, afinal? O que tinha? Ou era mais questão de o que não tinha? Ou de   o que queria ter? Ou não queria ser? Ou queria ser? O que era aquilo? Uma falta de paz, de descanso, de sossego. Uma agonia, uma vontade de descobrir algo que definisse aquilo. Uma vontade de que, quando chegasse a hora de ter que falar, saber dizer, saber se fazer  compreendida, saber definir exatamente o que queria e o que sentia. Mas nem sabia o que queria nem sabia o que sentia. Muita coisa junta, muito sentimento junto, muito pouco tempo...

Redomas.

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Foi construindo redomas ao seu redor. Que se quebravam com o toque certo, que iam trincando a cada palavra dita. Os pedacinhos iam caindo no chão, tudo em vão. Construiu tudo de novo, quebrou tudo de novo. Até o dia em que se acostumasse a viver assim encarando esse mundo de frente, sem precisar de falsa proteção, de falho escudo. Até o dia em que tantas redomas foram quebradas, que ela, enfim, achou que de nada adiantavam, eram destruídas sempre. Até que admitiu que aquelas redomas podiam ser sempre diferentes, mas que se trincavam pelo mesmo motivo. E não tinha capacidade de construir motivos, muito menos de modificá-los.

Como se.

Como se a gente pudesse simplesmente pegar as coisas e jogar no lixo : as memórias, o amor, os sorrisos, as palavras, as mágoas, as desculpas, as explicações, as satisfações. Como se fosse possível arremessar tudo pela janela. Assim seria muito fácil. Seria fácil não olhar para trás, não ficar triste, não se arrepender. Seria extremamente fácil se explicar, se desculpar, se livrar das dores, dos remorsos, dos rancores. Se assim fosse, nós só pegaríamos o que não nos convém e trocaríamos pelo que nos satisfaz agora. Sem pensar, sem deliberar, sem saber no que pode acontecer. Se acontecesse, então pronto, segue em frente e deixa isso para trás. Como se o passado não te perseguisse no futuro, como se a sua luta diária e interna para esquecer as coisas fosse em vão e tudo pudesse se apagar num piscar de olhos. Só porque você quer, só porque você precisa. Ah se tudo fosse assim tão simples, como se a vida não fosse te deixando marcas quase eternas, que vão te seguindo de um modo quase insup

velho sonho.

Estava no meio de um sonho. Via um rosto conhecido e uma voz conhecida, via uma ilusão conhecida, uma tentativa de explicação conhecida. Mas vi algo novo : uma vontade de não querer ouvir nem querer ver, coisa nova, muito nova. Aí eu acordei. e, há um tempo,  acordava e tinha raiva de quando esses sonhos conhecidos findavam rapidamente, queria ficar sonhando a mesma coisa a noite toda, passava horas e mais horas tentando reconstruir o sonho, voltar para ele, mas, hoje, fiquei aliviada, abri muito bem os olhos, passei tempo suficiente acordada, até que a lembrança do sonho se apagasse, e minha imaginação não fosse capaz de completá-lo. Até que eu não lembrasse mais do que me fez não querer mais sonhar.

falta.

Sinto falta mesmo, não nego. Falta precipitada, pode até ser, mas não injustificada. Sinto falta porque hoje me faz falta o que um dia me fez bem. E tudo que me faz bem eu quero ter perto de mim e, diante da impossibilidade, quer seja física, mental, volitiva, eu vou, pois, ficar sentindo a falta.

a verdade.

O problema é que as pessoas acham que a verdade machuca. A verdade é que a verdade machuca mesmo. Mas a mentira dói. A verdade rasga a pele, a mentira dilacera, fere até o osso, é muito mais amarga, impiedosa, traiçoeira, vil, covarde, violenta... A verdade, quando te atinge, te faz sofrer, mas depois vai amenizando a dor, como se fosse passando uma pomada por cima. A mentira não, ela não faz uso de pomada, parece que vai é dilacerando mais e mais a carne. Porque a verdade, com o tempo, vai amenizando as coisas, vai te fazendo ver como foi muito melhor que ela se revelasse ou que fosse revelada, mas a mentira, mesmo que seja revelada, te faz um mal danado, te faz querer que ela continue sendo mentira, quando já se tornou verdade. E essa transformação de mentira em verdade é que mais te faz mal, é quando você assume que sabe que era tudo mentira e que é verdade que era mentira. E qual a lógica disso? É que, afinal, a verdade deve ser dita, porque ela machuca, mas é digna, ela não é boa,

As coisas ainda podem ser boas.

Então, eu comecei da mesma forma que antes, mas deveria começar de outro jeito. Devia dizer aquilo que mudou e o que achei dessa mudança, se queria que assim fosse ou se queria que fosse mesmo daquele outro jeito. Aí vi que as coisas acontecem e que não se tem o destino nas mãos como aquelas ciganas de meio de rua. Vi que o que quer que eu diga não vai fazer com que tudo seja como eu quero e que, como disseste, eu penso demais. E, de vez em quando, eu preciso pensar menos e aceitar mais que nem tudo seja como deve ser, aliás, como eu acho que deve ser. Se o que se busca é realização, liberdade, carinho, amor, que essa busca não seja reprimida. Mas, se o caminho é tortuoso e cheio de pedras e não há um chinelo para calçar, não é de se ter que pensar mesmo se deve ser seguido? E também acho inutilidade pensar e agir de forma contrária, mas o que é que eu posso fazer com pensamentos persistentes, se eles ficam aqui rondando, farejando a mínima manifestação de medo e arrependimento que pos

Então.

Bom, então eu comecei a sentir falta dos seus braços e das suas pernas. Tão educados e comportados. E das suas mãos. Tão carinhosas.   E da sua respiração falha e sonolenta. E da sua preocupação e da sua sinceridade. Eu senti falta da sua voz e da sua risada. E dos seus planos para o futuro. E do quanto você, mesmo sem me conhecer, confia tanto em mim. Até mais que eu.   E do quanto você queria fazer com que eu me sentisse bem e do quanto você conseguiu isso. Tanto que eu sinto falta agora. Tanto que eu penso em você agora. E queria você agora. Nem que fosse só pra nós cantarmos uma música juntos. Ou rirmos da besteira alheia. Tanto que eu fiquei assim, com saudade dessas coisas.

Flor.

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Oh, querida, se tu fores viver de se culpar e de lamentar o que poderia ter acontecido, mas não aconteceu, vais, pensando que vida só seria aquela com a qual sonhara, acabar não vivendo. Então, minha flor, pare de se culpar e de querer achar motivos para as coisas que te acontecem. Abra-se para as abelhas, vire-se para o sol e exale todo o perfume que há em ti. Não fiques assim murcha porque não te regaram, mas tira força da terra em que tu vives e resplandeça sozinha, pois existem esses outros meios de se viver e tu, que achas que só há um e só quer este tão sonhado, vai, um dia, notar que a vida te dará outros tão melhores e vais rir do quanto te enganou e do quanto achou que não voltarias a ser colorida, mas é neste dia que tu mais estarás cheia de vida e que tu mais encantarás aos outros, que mais vão querer colocar água em ti e, mesmo que assim não seja, haverá sempre a chuva para te molhar e te fazer nova e cheia de esperança, essa que é verde tal qual tuas lindas folhas. Assim s

ai, que essa hipocrisia me deu sono.

Ai, que esse nariz de batata falando, falando : - O Direito é convívio. Fulano de tal, desembargador não sei das quantas me disse... Ele paga não sei quanto pra não sei quem.  Que meio corrupto!  Que o Direito... Ai, que essa baforada encheu meu pulmão de nicotina. Que eu até fechei os olhos pra não sentir o cheiro. Como se fechar os olhos fosse tapar o nariz também. - Que eu disse pro Batatinha que fosse atrás de fulano de tal, porque no Direito você tem que conviver com esse povo. E ele não foi... Tá aí... Se você precisar falar com a Dona Maria, do Tribunal tal, me diga, que ela é minha grande amiga! E tal e tal... Ai, que eu até senti o gosto do álcool agora. Esse gosto de palavras repetidas e insuportáveis. Ai, que eu queria bater essa porta agora. - Só mais essa dose... e nós vamos embora. Você conhece a fulana Juíza de não sei o que..? E o tal que paga um uísque de não sei quanto pra não sei quem no bar não sei qual? Ele que disse que o Direito é convivência. Eu falei pro m

Leite derramado.

- Flor, não adianta chorar por leite derramado. - E o que é que adianta, então? - Cuidar para que ele não derrame. - Mas, se eu ficar o caminho inteiro preocupada com esse balde de leite, mamãe, que você tanto mandou que eu trouxesse bem cheio, que era para fazer um bolo, eu teria que olhar só pro balde... E eu queria brincar com os coelhinhos, com os pássaros que ficam cantando para mim, queria me divertir também. - Tudo bem, querida, você é só uma criança. E leite a gente compra em qualquer esquina. Mas aprenda para toda a sua vida : depois que você se descuidou do leite e deixou que ele derramasse, não chore o dia inteiro, até porque, enquanto você chora, poderia já ter ido lá e pegado mais, e eu já teria acabado com isso. - Vou lá de novo. Desculpe, mãezinha. Dessa vez, Maria cuidou do leite, e o balde chegou cheio em casa. Até porque a diversão do caminho já tinha perdido a graça. - Mas, mamãe, - disse ela com a boca cheia de bolo, - eu não entendi porque vou ter que cuidar para

Tentei.

Tentei de todas as formas Dizer o que aqui digo Carta, mensagem, telefonema E não consegui. Essas tentativas inúteis e frustradas Só me dizem cada dia mais Que eu pare de tentar. Tudo será em vão  O destino é que diz não. E que destino maldito é esse?  Que não quer nem que eu tente. Se ontem ele dizia sim,  Por que hoje diz não? Por que ele viu que não vale a pena? Ou por que soube que eu não vou conseguir? E quer que eu pare.  Penso eu, que ele quer me poupar De tanto achar uma coisa E sempre acontecer outra. E, se eu mesma não me poupei, Ele quer fazer esse trabalho por mim Eu devo, então, ficar agradecida? Ou me indignar com essa intromissão?

frio.

Pegue sua frieza e guarde para você. Eu não preciso dela, muito obrigada. Aqui já é frio o suficiente.

pais e filhos.

De vez em quando, dá uma raiva da preocupação que nossos pais têm com a gente. Vontade de fugir e arrumar um jeito de viver às próprias custas, mas, aí, a gente percebe que pais (no meu caso, mãe) são assim mesmo e que, depois de toda a briga e das palavras mal ditas, nós temos laços que nunca vão se romper. Bom, e o que seria de nós sem nossos pais? Sem eles pra fazerem distinção do certo e do errado, do bom e do ruim, do que vai nos prejudicar e do que vai nos fazer bem... Nada, não seríamos nada. E é muito ruim você ter sempre uma rédea no corpo, que é puxada de vez em quando, quando eles dizem, volta aqui, não faz isso, que não está certo. E eu digo : - eu não posso saber o que é certo para mim? Eu não posso escolher? Não, não posso. Porque eu tenho 18 anos, e minha mãe tem mais de 4 décadas de vida. Ela  sabe. Eu posso até querer saber e posso, aliás, devo, de vez em quando, fazer minhas próprias escolhas, afinal, a vida é minha. Só que é egoísmo querer passar tanto por cima das r

Essa dúvida.

Ah, se eu soubesse Descrever esse sentimento Eu diria com todas as letras o que é Se eu pudesse, pelo menos, entender O que está aqui dentro Nesse lugar obscuro Nesse espaço inseguro Então, eu diria, E você aceitaria E me entenderia E, finalmente, não duvidaria Mas como eu não sei dizer O que parece até patético Parece uma inverdade Dou-te, mesmo, motivos pra duvidar E, embora não os aceite, Embora os repugne E olhe para você com tristeza Por duvidar de mim Eu vos dou motivos Motivos que eu nunca quis Que sempre rejeitei Mais motivos eu tive E nunca duvidei Por isso, esse meu sorriso amarelo Essas poucas palavras Esse, até, desrespeito É porque não posso mudar nada E esse nada também não tem nome É diante dessas incertezas E falta de nomes Diante desse não sei o que Desses desencontros Que eu me esquivo e me escondo Que eu peço tanto Não duvides mais Pois esta culpa me consome Esse medo me assombra Essa incerteza me destrói Só porque não s

guardei no lugar mais seguro que existe - dentro de mim.

Esse amor que passou feito brisa a mais forte que possa existir. Que passou e deixou marcas que nunca mais vão se apagar que deixou um cheiro, um gosto que não vão sair de perto de mim. Nem que eu pudesse, eu esqueceria. Nem em mil anos, eu vou esquecer. Quero levar comigo esse sentimento por toda parte, por todo o tempo pela eternidade. E, se perguntarem, tu não te cansas de amar assim? Eu vou responder que, pelo contrário, cansada eu estaria se não o tivesse comigo. Cansada eu estive, quando pensei em perdê-lo. Que eu me revigoro só de pensar, que eu não vivo pra isso, mas vivo por isso. Que eu não posso deixar que morra, pois seria suicídio. Se disserem que é triste carregar algo assim, direi que não, que é belo. Sinto-me nobre por possuir tão distinto sentimento. Não me envergonho nem me sinto menor por isso, sinto-me grande e diferente pois fui escolhida dentre tantos. É,sinto-me abençoada de ter o coração batendo forte assim, de ter um pens

amor é tudo(?)

Do que eu preciso? Se fosse há uns dias, há poucas semanas, eu diria exatamente, que era de amor. Hoje, eu digo que só amor é pouco. Não é pouco porque é insignificante, é pouco porque descobri que não dá para ser feliz só com isso. Que amor basta, e que amor é muito, é quase tudo. Quase. Amor sem atenção não é nada, amor sem carinho, sem proteção, sem confiança, não me vale de nada. E tanto que eu busquei isso. Subi alto, passei por cima de obstáculos que nunca pensei poder ultrapassar, para descobrir, ao final, que sem essas coisas, eu fiz tudo em vão. Em vão não, porque tentar é mais importante que conseguir? Ou não é? Afinal, a gente se contenta com a tentativa ou com a vitória? Ninguém fica feliz depois de tentar e não conseguir. Essa história de o importante é tentar só é bonita pra consolar quem perdeu. Eu perdi, é verdade, é fato inegável, mas eu ganhei também. Ganhei a certeza de que, tudo que eu podia fazer, eu fiz. E de que eu não vou me arrepender, daqui uns meses ou

pedaços.

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Será que dá pra juntar tudo e colar depois? Um pedacinho aqui, outro pedacinho ali... Será que vai voltar a ser o mesmo?

matando o tempo.

Se eu fechar os olhos e dormir, esses dias vão passar logo? Se eu ficar menos ansiosa, eu vou te encontrar logo? Se eu pedir, com fé, que as horas andem mais rápido, será que Deus vai me ouvir? Se eu parar de pensar, será que a saudade diminui? Se eu puder matar esse tempo a facadas, a punhaladas, eu mato. Se eu puder correr e pular as etapas, eu pulo. Se eu puder tirar todas essas dúvidas, eu tiro. Se eu puder fazer alguma coisa, que não seja ficar esperando de braços cruzados, eu faço.

o silêncio que sobra.

É tanta coisa para falar que eu cuspiria na cara. Que eu diria com as palavras jorrando da minha boca, que nem uma chuva daquelas de trovões fortes, dessas que caíram ultimamente. Sairiam as palavras feito um trovão, quando elas costumam sair como um sussurro. Eu olharia nos olhos e falaria, falaria, falaria. Diria tudo que me impede de viver, tudo que me machuca, tudo que me faz querer gritar. E não me importaria se estariam me dando ouvidos, porque minha única preocupação seria não deixar de falar nada. E tudo que eu anotei naquele caderno eu falaria, tudo que eu sempre quis dizer, mas que calou por tanto tempo.Tudo que o medo calou, tudo que a cautela, o decoro, a vergonha calaram, eu diria. Quantas coisas seriam! Um mar, um deserto de palavras. E você sairia de perto porque não aguentaria ouvir toda aquela verdade, porque se continuasse ali a me ouvir, não conseguiria mais deitar a cabeça no travesseiro de tão pesada que ela ficara, e correria pra longe, para que o remorso não te c

esperança.

Pois se esperança é a última que morre, a minha está morrendo... e, se depois de tantas coisas que já se foram, ela ainda está por aqui, acho que ela também está a partir agora. Afinal, o que ela faria aqui sozinha? Enquanto todos já a abandonaram, enquanto nada mais resta aqui. Esperança não morre nunca. Pois morre sim, porque ninguém sobrevive só, nem mesmo essa tal de esperança. Devolva-a para mim, que eu gosto dela. E ,de tudo que eu já perdi, é dela que sinto falta, porque dela eu vivia, e dela eu tirava minha força. Devolva-a para mim, porque ela que vai me manter de pé, ela que vai garantir que tudo pode voltar um dia, e que eu não vou perder a esperança. Mas isto é um absurdo: Não quero perder a esperança de ter  esperança. É que esperança é a última que morre, e, se a gente não for acreditar nisso, se a gente não se agarrar a isso, o que é que vai sobrar de nós?