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Mostrando postagens de junho, 2011

Gosto de vida.

- E essas lágrimas tem gosto de que? - Gosto de vida. Sabe? De toda a sua vida, desabando. São pesadas, amargas... Quando vem tudo à tona, quando seu caminho tá tão errado, confuso, que só restam lágrimas no meio dele. - Querida, tudo tem jeito nessa vida. - Eu sei, eu sei, mas parece que não tem, que nada mais vai dar certo, tudo tão irremediavelmente errado. Não achei que elas fossem cair logo assim, achava que aguentava mais, até que isso tudo passaria, e elas continuariam guardadas, dando tudo de si para não caírem, duvidei da minha fragilidade, pensava que tinha me tornado forte, que entendia, que conseguia aceitar certas coisas. Mas não, é como se tudo explodisse agora, de uma hora para outra, como se meu corpo não suportasse guardar mais tudo. Desisti de tentar aceitar, de querer acreditar que as pessoas são assim. Não, não podem ser. São pessoas! - Mas as pessoas são diferentes. Umas pensam mais que outras, sentem mais que outras, importam-se mais que outras. - Isso não é

Ausência

Ausência se sente quando se somem as coisas que a gente não quer que estejam ausentes Saudade se sente. Quando assim, de um dia pro outro, deixam de ser nossas e passam a ser só do mundo e do nosso pensamento. Sem nem nos dar tempo de dizer tchau ou adeus nem dizer palavras bonitas e o quanto foram boas e especiais para nós. Quando se vão sem olhar para trás e buscamos saber o porquê de todos os dias sentirmos falta de coisas que não souberam nem se despedir nem sentiram saudades de nos sentir. Mas saudade é assim mesmo, não se explica, só se sente, como já se dizia tanto. E a gente não acredita, fica só procurando achar um motivo ou outro para parar de sentir, porque essa ausência, quando é assim, de repente, é coisa ruim danada, é a pior saudade que se sente.

Chuva.

Se existir coisa mais bonita que essa chuva caindo no quintal, molhando cada pétala de flor, cada grão de areia, as gotas escorrendo pelas folhas, inundando os jarros de planta, tingindo o céu de cinza, para, depois, pintá-lo do azul mais bonito que existe na cartela de cores. Se existir, eu ainda não vi. Essas mangueiras cobrindo a cachoeira, esquecidas, subindo pelo céu, quase tocando as nuvens. Detrás delas, o véu vai se encorpando, a água caindo e adicionando camadas e camadas de tule, deixando a serra ainda mais bonita de se ver, o dia ainda mais bonito de se viver. A cada minuto, tocando o mato e transformando o seco em verde, levando embora a feiura e trazendo a beleza mais bela desse mundo. Eu acho que não há coisa melhor de se olhar. Melhor seria se a chuva, assim com ela faz com todas as outras coisas, pudesse molhar dentro de mim, lavar minha alma, até que a sujeira fosse toda embora e, depois que ela passasse, também só sobrassem coisas bonitas para se ver. Mas, só de olhar

Teias de aranha.

Aí eu te dei aquele beijo horroroso no rosto, como se fosse teu rosto que eu quisesse beijar, mas acho que meu corpo disse não pra minha boca, porque ela se recusou a encostar de novo na tua boca. Acho que foi minha cabeça que sussurrou pro meu corpo que ele nem sempre tem que fazer o que tem vontade, que acaba machucando certas outras coisas que vivem dentro dele, que parasse de ser egoísta e pensasse nos outros também, que pensasse em mim mesma, que sou dona dele. E eu, que não precisava de mais provas para contestar a verdade dos fatos, que se achavam incontestáveis no momento, pois, depois de umas três ou quatro coisas que você não fez, essa era só mais uma que entrava no rol. E por que eu precisaria de mais, se essas já bastavam tanto? Mas sempre queria mais, não é mesmo? Sempre querendo achar que havia um e outro motivo, quando esses motivos não se encaixavam de forma alguma na realidade, tanto que nem eu, a criadora deles, não os aceitava. Pois bem, mesmo que tivesse me dado vár

Desejo.

Eu desejo muito que as pessoas sejam felizes Todos os dias. Que haja alegria. Que aquele homenzinho que vende água corcundo, sofrido, sujo... possa chegar em casa e ter uma mulherzinha corcunda, sofrida, suja... Que haja amor. Que os filhos deles, corcundos ou não, sejam felizes Que carreguem livros. Que haja educação. Que aquela mulher de saia curta na esquina chegue em casa e veja seu pequeno anjo sonhando e sonhe também. E tire o dinheiro suado do meio dos seios murchos e cansados. E a criança tenha almoço no outro dia E cresça. E tire a mãe da esquina e bote numa casa com varanda. E que a mãe possa assar bananas e comê-las com canela, sem pensar no amanhã. Que haja sonho. Que a criança de olhinhos tristes, cheios de remela, possa chegar em casa, ouvir perguntas e cantar novas músicas. Possa ser banhada, vestida, enfeitada, amada. Que não tenha o corpo grudado nos ossos, mas a boca cheia de doces. Que haja ingenuidade. Que os olhos brilhem mais que

mais vezes ao dia.

Se eu visse teu sorriso todo dia, eu sorriria mais vezes ao dia. Se eu olhasse para você todo dia, eu viveria mais vezes ao dia. Se você me quisesse todo dia, eu seria sua mais vezes ao dia. Eu ficaria fora do ar mais vezes ao dia, mais feliz mais vezes ao dia,  menos nostálgica mais vezes ao dia, menos impaciente mais vezes ao dia,  mais confiante mais vezes ao dia, mais segura mais vezes ao dia,  mais amorosa mais vezes ao dia. Eu te tenho todo dia, na minha mente, muitas vezes por dia,  mas eu te teria mais vezes na vida, se você aqui estivesse,  mais vezes ao dia.