Pedrinha que brilha

O vô queria porque queria me dar um anel de formatura. Com o rubi em cima. Pra minha doutora. Não precisa, vô, eu dizia desde que passei no vestibular. Eu nem vou usar. Não acho bonito.
A mãe viajou pra Minas. Em Minas, a gente sabe que tem (tinha) muito ouro. Foi perto de eu me formar. Ela veio me dizer que o vô mandou comprar o anel. Sabia que eu não queria, e agora, o que ia fazer?
Mandei comprar um anel barato, bonitinho, pra ele ficar feliz (e eu também). Ia servir da mesma forma, satisfazer a vontade dele e suprir a minha falta de vontade de andar com um rubi no dedo.
Era lindo, a mãe acertou! Só uma florzinha talhada em ouro com uma pedrinha brilhante em cima (que não era vermelha). E foi tão barato! Minas parece que ainda tem ouro.
Fingi que ainda não tinha visto quando o vô veio me dar. Dei o mesmo sorriso que quando vi a primeira vez. Achei mesmo lindo. Ele ficou contente demais. Toda vez que eu ia lá, botava o anel, pra ele ficar mais alegre.
Fiz o juramento com ele. Esqueci as palavras, mas devo buscar a justiça. Quando levantei o braço, vi a pedrinha brilhando. Preciso orgulhar o vô. Fui pra missa com ele, coloquei no alto quando mandaram benzer os rubis. Ficou abençoado.
Depois, o vô morreu. Viu eu me formar. Ele sempre dizia que só queria isso. Era até injusto ele querer viver pra isso. Desde que eu tinha dois anos, quando ele adoeceu, dizia isso.
Talvez ele viveu pra eu ver essa vontade tão grande que ele tinha. Não só por isso, mas também por isso. E sempre que eu olho pra flor dourada no meu dedo, lembro do vô.
Fui fazer exame, e a mulher disse pra eu tirar a aliança. Eu não expliquei, mas pensei que ela foi adequada mesmo. O vô me deu esse anel pra eu ter uma aliança com ele. Porque eu nunca esqueço: eu tenho que orgulhar o vô.

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