Machos.

De todas as nossas dores, o senhor não sabe? Do descaso conosco, da nossa luta, das nossas perdas e, por fim, das nossas vitórias? Não vê que, antes de sabermos o que somos, fomos muito destroçadas, de corpo e de alma? Não entende que nossos corações eram cheios de medo, nossas mãos eram sempre aflitas, nossos nervos estavam, o tempo todo, à flor da pele? O senhor, falando assim, não se recorda de que há mulheres das quais gosta, que não são assim tão maldosas como você acha? Lembra que estamos de mãos dadas, abraçadas, amarradas, empoderadas, cientes do nosso valor e da nossa vida? Se o senhor não sabe, eu digo agora, porque o seu discurso me apavora, parece velho, mas foi há uma hora, transforma nosso sonho em pesadelo, nossa conquista em derrota, nossa paz em violência. Qual o desprezo que você sente tanto, que exala como ódio e rancor, com a covardia aberta no meio do peito, deixando sair pela boca? Quantas vezes você foi ferido para atacar tanto assim as mágoas alheias, parecendo ser uma tentativa de retomar o que nunca te deram? Se te arrancaram uma parte um dia, por que você, tendo sentido a dor, iria querer tirar nossas entranhas então? O senhor consegue pensar um pouco ou teve o cérebro comido por uma espécie de ignorância, que ultrapassou seu saber e qualquer forma de raciocínio? Qual seria o jeito de fazer o senhor entender nosso cansaço diário, nosso ouvido tapado, nossa boca muda, por uma mera necessidade de conviver? Existiria uma chance de o senhor perceber que nós somos iguais e queremos, apenas, assim como você, viver bem? Não é embaixo do chão, como o senhor disse que a gente gosta, mas em cima do solo, crescendo como flores, tomando o ar, força e coragem, para, a todo instante, combater e seguir em frente, apesar de machos como você. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sala de espera.

Olhar para você.

Eu sei