Deus está ocupado.
Eu
não sei como Deus poderia se ocupar de mim. Crianças com fome na África,
guerras civis no mundo, homicídios a todo instante, famílias em separação,
suicídios, doenças incuráveis e torturantes, pais morrendo, mães morrendo,
filhos morrendo, dores enormes e permanentes. Então eu passei a pensar que Deus
não tem mais tempo, que ele não poderia e sequer teria como se preocupar
comigo. Eu não estava doente, meus pais estavam vivos, meus amigos viviam bem,
eu não passava fome. Deus tinha milhares de outras ocupações. Parei de pensar
em Deus quando eu tinha medo, porque não achava que meu medo era plausível para
chegar a Deus. Por que, então, eu tinha medo? Não chamava Deus quando sentia
dor, fosse ela no corpo, fosse na alma. Pensava que minha dor, por mais que
latejasse, era pequena diante das dores mundiais. Se eu desejava algo que não
tinha, não me lembrava de Deus, ficava conformada e arranjava um modo de esquecer
o desejo, porque ele não era comparável a pedidos que devem ser feitos a Deus.
Se alguém me dizia que Deus ia providenciar, eu sempre queria dizer o mesmo,
que Deus está cheio de problemas a resolver. Ontem, disseram-me que Deus
escreve certo por linhas tortas, e poderia ser que ele me colocasse, se não
agora, no caminho de alguém novamente, um outro dia. Eu disse o que eu queria,
que Deus, coitado, está muito ocupado para se ocupar de mim.
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