Jantar.


Ontem eu me lembrei de nós dois. Por um instante, passando na Avenida, no meio dos carros. E lembrei. Vi nosso restaurante, que visitamos certa vez. Destruído, assim como o que havia entre nós. As paredes derrubadas, os portões fechados e enferrujados, as janelas com trancas de madeira formando um ‘’x’’, os escombros, restos do que um dia ele foi. Lembrei-me de você na penumbra, das taças de vinho, das minhas mãos tremendo embaixo das suas... dos seus olhos que pareciam incapazes de dizer mentiras. Lembrei-me do meu amor. Que era bonito como aquele lugar em que jantamos juntos, cheio de corações pintados na parede, e o meu junto com eles, mas numa exposição que era só sua. Lembrei-me do quanto eu ansiava que tudo desse certo, da esperança que eu mantinha guardada no peito, do brilho que eu irradiava, da minha alegria. Ontem, em frente àquele lugar, lembrei-me de como fora perfeito para nós dois, hoje, dele, só ficaram restos, que ocupam um lugar à espera de serem retirados, para que seja construída outra coisa em seu lugar, algo sem graça, talvez um posto de gasolina, ou uma loja de carros, vai-se tornar só mais um lugar comum, igual a milhares que existem na cidade, vai ser substituído por algo não tão verdadeiro nem autêntico, uma cópia do que há por aí... Mas o meu amor não, ele era único e real, especial e raro. E foi derrubado com várias marretadas, uma atrás da outra, as portas foram sendo batidas de uma vez, colocaram trancas para que não sobrasse nem uma ilusão de que voltaria a viver, até que não sobrassem pedaços que fossem suficientes para que ele voltasse a ser o que era antes, só restaram pó e partes do que foi um dia, não se podendo nem o reconhecer. Lembrei-me desse amor esmagado, da tristeza que substituiu a felicidade daquele dia, do vazio que veio depois... Três cruzamentos adiante, esqueci, mas lembrei hoje de novo, mesmo quando eu passei apressada, querendo ultrapassar os carros.

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