Eterno.

Eu te pediria que me ligasse cem vezes ao dia. Só pra dizer oi e perguntar o que eu estava fazendo ou onde eu estava. Eu nunca deixaria chegar na caixa postal, porque você não gostava. Que me chamasse cinquenta vezes só numa tarde, do pé da escada, ou da calçada, independentemente do que eu estivesse fazendo, eu iria escutar o que tinha pra me dizer. Que tocasse a campainha bem forte, não me importaria com o exagero. Eu te perguntaria quantas avoantes caçou, mas não reprimiria a conduta criminosa, eu mesma faria pra comermos com muita farinha. Eu andaria de carro com você na velocidade dez, sem a menor impaciência. Aguentaria discursos sobre preocupações com minhas latinhas, deixaria mesmo de bebê-las se isso te fizesse dormir mais em paz. Almoçaria às onze da manhã, jantaria às cinco da tarde, com a maior fome do mundo. Eu te ligaria todas as manhãs, tardes e noites, a cobrar, porque você pedia. Contaria meu dia, tudo que fiz, estudei, comi, dormi e sonhei. Deixaria você me cheirar e dizer que eu sou cheirosa até voltando da academia. Comeria muito feijão, carne, doce, rapadura, só pra te ver feliz. Nunca mais faria regime, pra que meu queixo não ficasse fino do jeito que você não gostava. Não brigaria por você entrar debaixo do carro nem por levar minha mala. Iria pra rodoviária duas horas mais cedo, aceitaria cem reais só pra deixar você sem medo de eu perder o ônibus ou de ficar sem amparo caso ele desse o prego. Deixaria de ir pra qualquer balada, viagem, pra passar o fim de semana com você, qualquer namorado, pra ter a sua melhor companhia. Eu te pediria que saísse como quisesse, sem camisa, com os cinco botões abertos, de bermuda caindo, com a roupa suja, rasgada, de havaianas, pra onde você quisesse ir assim, eu não me importaria. Se não quisesse botar dente, tirar foto, fazer pose, ser quem você não era, eu nem ligaria. Tudo, tudo que eu pudesse, pra te fazer feliz e eterno.

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