A Solidão.

Os dias vão passando, e a certeza de que não vai passar vai continuando a morar aqui, bem pertinho de mim. E o medo vai se alojando, trazendo mais e mais bagagens. A solidão, que o recebeu de braços abertos, já se sente de casa , de tão acostumada com esse lugar. E ela não sabe ser bem-vinda, sabe que a inquilina a detesta, mas é a dona do pedaço, porque sabe que é a única a preencher tal espaço, pois não pode ficar vazio. Sabe ser útil, necessária, sabe que precisam dela na falta de outro ocupante. E que é segunda, terceira ou décima opção, talvez, mas sempre volta um dia e ali recebe abrigo. Pois a solidão habita os corpos, porque os corpos nasceram sós. E é expulsa de vez em quando, arrastam-na pelos cabelos, e ela vai embora esperneando, praguejando, jurando não voltar nunca. Mas volta. Arrependida. Sabe que não é de todo ruim, mas que rouba muitos sentimentos bons das pessoas. Não deveria culpá-las por não gostarem dela, devia ser esperta o suficiente para ser compreensiva. Mas, não, aborrecia-se e voltava só depois de muitos pedidos de perdão, depois de ver lágrimas vazias escorrendo loucamente pelas faces, de ouvir palavras vazias, de olhar vidas vazias. Sentia-se, assim, boa, quando as pessoas entendiam que o vazio se preenche com a solidão, que as respostas para várias perguntas feitas pela alma vazia são respondidas por ela, que, garbosamente, aceitou o convite de volta.

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